Como júri, nos deparamos com um grupo de filmes com fortes dimensões intermidiáticas e inter-epistêmicas. Uma costura de obras que se utilizam de diversas formas de expressão: recebemos uma aula de impressionante poder filosófico que interconecta saberes ancestrais e cósmicos; acompanhamos uma investigação de imagens e texturas que se coloca cúmplice do sentimento da infância; testemunhamos pesquisas que trazem à superfície das águas da história as presenças fantasmáticas que se impõem num território que insiste em deixá-las no invisível; assistimos a danças embaladas a gestos mínimos e precisos, em preparações reflexivas compartilhadas com o público; e nos aproximamos de pessoas idosas como protagonistas desejosas do agora, um tempo repleto de júbilo, insegurança, amor e solidão.
E enfim, por desafiar os repertórios deste júri e a construção canônica da ideia de cinefilia, por trabalhar o humor como possibilidade política contundente, por um manejo inteligente de linguagens contemporâneas, colocando-as em xeque de forma criativa, por aglutinar diferentes culturas da imagem visual e sonora num filme-ciborgue e pela intenção de interferir diretamente na economia do audiovisual, é que fizemos nossa escolha. Por se identificar com a ousadia do filme, este júri premia Trap Pesadelo – O manifesto, de Marco Antônio Pereira.
Anti Ribeiro, Érico Oliveira e Nanda Rossi