Os filmes que integram as competitivas Internacional, Brasil e Minas concorrem ao prêmio do Júri Oficial, que concede ao vencedor o Troféu Capivara do 26º FestCurtasBH, além do prêmio em dinheiro no valor de R$5.000,00 (cinco mil reais).
Os filmes das mostras paralelas e competitivas também concorrem ao prêmio do Júri Popular, que concede ao vencedor o Troféu Capivara do 26º FestCurtasBH, além do prêmio em dinheiro no valor de R$3.000,00 (três mil reais).
Em comemoração a seus 30 anos, o FestCurtasBH introduz um novo prêmio, concedido pela organização do Festival, a artista ou coletivo cinematográfico que se destaca em sua vitalidade estética e política. Na primeira edição do prêmio, batizado Prêmio Especial Infrarreal, homenageamos o Colectivo Los Ingrávidos, baseado no México e cujo trabalho o FestCurtasBH tem acompanhado com enorme interesse e exibido em todas as edições desde 2020. O prêmio foi concedido durante a exibição do curta-metragem Teocalli, realizado pelo coletivo em 2024.
Mostra Competitiva Minas
Como júri, nos deparamos com um grupo de filmes com fortes dimensões intermidiáticas e inter-epistêmicas. Uma costura de obras que se utilizam de diversas formas de expressão: recebemos uma aula de impressionante poder filosófico que interconecta saberes ancestrais e cósmicos; acompanhamos uma investigação de imagens e texturas que se coloca cúmplice do sentimento da infância; testemunhamos pesquisas que trazem à superfície das águas da história as presenças fantasmáticas que se impõem num território que insiste em deixá-las no invisível; assistimos a danças embaladas a gestos mínimos e precisos, em preparações reflexivas compartilhadas com o público; e nos aproximamos de pessoas idosas como protagonistas desejosas do agora, um tempo repleto de júbilo, insegurança, amor e solidão.
E enfim, por desafiar os repertórios deste júri e a construção canônica da ideia de cinefilia, por trabalhar o humor como possibilidade política contundente, por um manejo inteligente de linguagens contemporâneas, colocando-as em xeque de forma criativa, por aglutinar diferentes culturas da imagem visual e sonora num filme-ciborgue e pela intenção de interferir diretamente na economia do audiovisual, é que fizemos nossa escolha. Por se identificar com a ousadia do filme, este júri premia Trap Pesadelo – O manifesto, de Marco Antônio Pereira.
Anti Ribeiro, Érico Oliveira e Nanda Rossi
Mostra Competitiva Brasil
Com um traço bastante singular, Dona Beatriz Nsimba Vita redesenha a circularidade do mito, conectando espaços e histórias num curta-metragem tão bonito quanto desafiador. A alquimia da personagem principal, que se multiplica vertiginosamente, inspira um filme de difícil decodificação, mas que nos convida à sua trama por múltiplos sentidos: o primoroso trabalho plástico alinha-se a uma rigorosa investigação sonora. Cachorros vermelhos atentos, araras nervosas, fantasmas que invadem casas, uma receita ancestral escondida, o fim do mundo, seu recomeço… Nessa reunião alquímica, o trabalho imaginativo do artista e cineasta Catapreta constrói um universo poético, em nada alegórico, que rascunha aproximações com o real, mas sobretudo propõe uma estranha suspensão com o cinema na evidência do mundo. A comissão parabeniza ainda a investigação estética e pesquisa histórica que resulta no traçado que dá forma à Dona Beatriz Nsimba Vita.
Azucena Losana, Fabio Rodrigues Filho e Kênia Freitas
Menções Honrosas
A menção honrosa vai para um filme que se ancora nas texturas e sensorialidades de suas imagens e sons para atualizar a tradição do Ticumbi e escavar as histórias dos moradores da antiga vila de Itaúnas. O filme ondula a escuta das memórias e a reinvenção da tradição com o movimento contínuo das areias e das águas do rio e do mar, sem nos deixar esquecer que ao lado o deserto verde de eucaliptos está à espreita. Acreditando nos mitos e mitologias que encontra, mas separando o gesto documental do etnográfico, a obra promove, por um preciso trabalho de direção, um movimento sincrético bonito e respeitoso com os seres animados e inanimados que filma. Por esses motivos, a comissão concede menção honrosa ao filme Canto das Areias, de Maíra Tristão.
Azucena Losana, Fabio Rodrigues Filho e Kênia Freitas
Mostra Competitiva Internacional
Solo la luna comprenderá, da diretora costarriquenha Kim Torres, se destaca por seu habilidoso entrelaçamento de diferentes temporalidades, elaborando, pelos elementos narrativos e estilísticos, uma tessitura da memória, atualizando as noções de mise-en-scène como revelação do enigma e do mistério. Partindo da impossibilidade de narrar momentos fugidios e de grande intensidade, o filme se desenvolve em tom de fabulação, apostando nas lacunas e nas incompletudes, nos vestígios de uma quase história: nos recortes e janelas, nas dinâmicas entre luzes e sombras que preenchem os planos como em um jogo de esconder e mostrar, enfatizando uma relação temporal dada pela natureza da brincadeira, com intenção e pulsão de vida, colhendo detalhes insignificantes do cotidiano e da marca do sobrenatural, daquilo que é, ao mesmo tempo, eterno e muda a todo instante.
Pelos relatos imprecisos e olhares imaginativos das crianças – permeados pela vontade de ir embora e encarar todo o sentimento do mundo, convivendo com o desejo de permanecer indefinidamente instalado em um passado de afetos –, o filme elabora uma imagem do que pode ser crescer em Manzanillo, na Costa Rica. A obra interpela as brincadeiras na praia, as andanças sem fim pelos cantos do vilarejo que a câmera acompanha, participante, subjetiva, imprecisa, a intensidade de um instante que apenas a lua pode testemunhar em sua plenitude. Flertando com o experimental, Solo la luna comprenderá se desocupa das estruturas narrativas para oferecer ao espectador uma rica e transcendente experiência de cinema.
Alessandra Brito, Gilson Plano, Pedro Vaz Peres