6º Corpo Crítico

CORPO CRÍTICO

Intermediadores:
Lorenna Rocha e Gabriel Araújo
Datas de realização:
11, 12, 16 e 17 de Outubro
Horário:
10h às 12h30
Local:
Cine Humberto Mauro - Palácio das Artes
Carga Horária:
10 h
Vagas:
12

.autorias em disputa; ou a crítica como contaminação

A performatividade discursiva da cultura digital tem moldado (e cristalizado) nossa relação com o cinema, sem deixar brecha para algum tipo de deslocamento, impasse ou dúvida. O muro que tem sido construído em torno de nossas sensibilidades não tem permitido mergulhar nas multitemporalidades dos filmes ou em sua profusão cacofônica de imagens e som. Ao invés de solicitar algum tipo de coerência judicativa a eles, gostaríamos de nos desafiarmos a sentir o que está ao nosso redor e construir práticas críticas do pensamento instauradas em processos de contaminação: onde as matérias e percepções possam se entrelaçar, se interpenetrar e se diferenciar, tudo ao mesmo tempo. É preciso deixar a proliferação acontecer.

É nesse jogo de cipós, de laços e nós que, para nós, os filmes se constituem. Reconhecendo a força da coletividade na feitura de um filme, desejamos propor uma conversa que ponha em crise o status e poder do eu-autor, redirecionando nossos sentidos para as agências criativas que o moldam e o elaboram, sem centrar o lugar da autoria na função de direção cinematográfica. Desejamos perceber o jogo de forças, impasses e desobediências que vibram na superfícies das imagens. É um convite para observar as “colaborações e combinações inesperadas; amontoados quentes de composto” que se presentificam na tela.

Marcadas pelos escritos de Anna Tsing (2022) em O cogumelo no fim do mundo: sobre possibilidades de vida nas ruínas do capitalismo, queremos propor a construção de um espaço formativo onde a curiosidade e a diferença sejam pontos de partida para criarmos intimidade com os filmes e a crítica. Em que a justaposição (e a confusão derivada dela) apareça como um devir recíproco, uma possibilidade de estabelecer processos relacionais de maneira que suscitemos “uns dos outros e uns com os outros”, como diria Donna Haraway.

.resumo    

Na ocasião em que a INDETERMINAÇÕES foi convidada para construir o programa do Corpo Crítico desta edição do FestCurtasBH, sentimos vontade de elaborar uma proposição com dois elementos substanciais da plataforma: a discussão em torno da ideia de autoria e a coletividade. Impulsionadas pela vontade de experimentar formas coletivas de escrita e de análises fílmicas que coloquem em xeque a soberania da figura do autor-diretor, organizamos quatro encontros do Corpo Crítico que buscam promover uma forma mais vulnerável de nos relacionarmos com os filmes; que historicizem a discussão sobre autoria no cinema; e que se lancem a construir perspectivas críticas em torno do cinema brasileiro atentas as disputas de poder e impasses estético-políticos que movimentam o campo.   

.programa dos encontros    

Encontro 1

Crítica como contaminação

“Somos contaminados por nossos encontros; eles transformam o que somos na medida em que abrimos espaço para os outros”, afirma Anna Tsing. É com o desejo de abertura radical de nossas sensibilidades que iniciamos o Corpo Crítico deste ano. A partir do conceito de “diversidade contaminada” ensaiado pela antropóloga estadunidense, pretendemos incentivar o encontro com os filmes a partir de estímulos que nos façam desejar ser transformados em contato com eles.

Textos de referência

TSING, Anna. O cogumelo no fim do mundo: sobre possibilidades de vida nas ruínas do capitalismo. São Paulo: n-1 Edições, 2022.

Encontro 2

“Autorias rasuradas”
 

O que fazer quando o corpus de um filme perturba a assinatura de seu/sua autor(a)-diretor(a)? Na contramão do ordenamento pressuposto pela Política dos Autores, sistematizada pela revista Cahiers du Cinéma durante a década de 1950, discutiremos os efeitos da centralização da função da direção cinematográfica em nosso modo de conviver com o cinema. Num cenário contemporâneo de hiperexcitação do “eu”, por que não recorrer a uma relação com o campo cinematográfico (e sua história) que confronte esses valores?

Textos de referência

BERNARDET, Jean Claude; REIS, Francis Vogner dos. A política dos autores: França, Brasil 1950 e 1960. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018.

NWABASILI, Mariana Queen Nwabasili. Revendo personagens e recepções de ‘Xica da Silva’ e ‘Vazante’ ou Fronteiras do histórico debate sobre autorizados a representar | Xica da Silva (Cacá Diegues, 1976) & Vazante (Daniela Thomas, 2017). câmarescura, 01 jun. 2022. Disponível em: https://camarescura.com/2022/06/01/xica-da-silva-vazante-mariana-queen. Acesso em: jul. 2023.

RIBEIRO, Marcelo R. S. Autorias rasuradas em “Afrique 50”: para uma economia política das assinaturas. Revista Esferas, v. 1, n. 26.

Encontro 3

Coreografando nós

Dénètem Touam Bona traça uma reflexão a partir da sabedoria dos cipós, “jogo de cordas que, ao ligar ‘múltiplos pontos de vida’ […], implanta constelações inéditas” (2021). Tendo como inspiração o pensamento do filósofo afropeu, buscaremos mediar atividades que incentivem métodos de reflexão e escrita coletivas que possam formular, a partir da diferença e contaminação, uma memória crítica do festival.

Textos de referência

ALMEIDA, Djaimilia Pereira de. Prazer de cair. Quatro cinco um, 10 ago. 2023. Disponível em: https://www.quatrocincoum.com.br/br/colunas/onde-queremos-viver/prazer-de-cair. Acesso em: ago. 2023.

TOUAM BONA, Dénètem. Visões quiméricas. In: Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte (23.: 2021). SIQUEIRA, Ana, et al. (org.). Belo Horizonte: Fundação Clóvis Salgado, 2021.

Encontro 4

Epílogo – Polifonia

O cinema brasileiro é um campo em disputa e mutação. No último encontro, promoveremos uma conversa aberta em torno dos discursos, estéticas e políticas que circundam o campo cinematográfico no Brasil. Quando tudo parece “urgente” e “importante”, como promover práticas críticas do pensamento que não excluam o passado indigesto e nem se deixem levar por presentes e futuros redentores?

Textos de referência

ALBUQUERQUE, GG. A ‘sentada’ na música brasileira e seus impasses políticos. Suplemento Pernambuco, Agosto, 2023. Disponível em: http://www.suplementopernambuco.com.br/ensaio/3123-%E2%80%9Ccertas-lutas-s%C3%B3-s%C3%A3o-poss%C3%ADveis-sentando%E2%80%9D.html Acesso em: jul. 2023.

ANDRADE, Patrícia Mourão de. Curadoria como poder e trabalho, e algumas notas sobre a capitalização do amor. Caderno de Leituras n.141. Série intempestiva. Belo Horizonte: Edições Chão da Feira, 2022.

DOS REIS, Francis. Campos, contracampos e extracampos: cinco sequências do cinema brasileiro em uma era de antagonismos. In: RODRIGUES, Laécio Ricardo de Aquino. Crítica e curadoria em cinema: múltiplas abordagens. Belo Horizonte: Fafich/PPGCOM/UFMG, 2023.

TEXTOS PUBLICADOS

Coletivo (Corpo Crítico 2023)

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Olhar mais além: sobre ritmos e disputas na superfície das imagens

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