Agarb Braga, cineasta responsável pelo filme “Americana” (Pará, 2025), selecionado para a Competitiva Brasil.
O Brasil é o país que mais mata pessoas transgêneras e travestis, e “Americana” traz corpos trans em uma delegacia. Contudo, a presença é motivada por uma briga banal em um local público, com um tom de comicidade. De que forma você acredita que essa narrativa pode contribuir para a criação de outras histórias sobre a população LGBTQIAPN+ que não estejam estritamente ligadas à dor ou sofrimento? A vida não é feita só de dor e sofrimento, também temos momentos felizes, situações loucas em que a gente para e pensa: “Nossa, isso parece cena de filme!”. Nós, corpos trans e LGBTQIAPN+, também vivemos alegrias, amizades, amores e confusões do dia a dia. No meu grupo de amigas, por exemplo, sempre tem muita risada e muita leveza. Em “Americana”, eu quis transparecer exatamente isso: esse amor entre amigas, essa cumplicidade que, mesmo com brigas e perrengues, se resolve e acaba em união. Acredito que nem todo cinema queer precisa ser drama (embora eu ame um bom drama!). Assim como a vida, temos dias de luta e dias de glória. Espero ver cada vez mais filmes que retratem as vivências trans com naturalidade, afeto e humor.
Ao ver o material promocional do curta é impossível não notar a presença de Leona Vingativa, que se popularizou na internet e segue no imaginário através dos memes. Como surgiu essa parceria para este projeto? Na pré-produção do filme, eu estava sentada sozinha num bar quando me veio um insight: e se eu chamasse a Leona Vingativa pro filme? Foi aí que eu mandei mensagem pro produtor do filme e ele conseguiu o contato dela, e então mandei mensagem perguntando: “É a Nati Natini Natiê?”. Ela respondeu: “A própria!”. Contei sobre o projeto e ela topou na hora. Eu estava super nervosa no nosso primeiro ensaio porque sou muito fã da Leona, mas quando nos encontramos foi mágico: todo mundo se conectou muito rápido, parecia realmente um encontro entre amigas. A escolha do elenco foi essencial para que “Americana” tivesse essa energia única, e sou muito grata por isso.