Mostra Competitiva Internacional

Vivemos em um tempo em que as imagens agenciam o mundo. Essa seletividade, em maioria ocidental, constrói uma história marcada por assimetrias: mercantiliza identidades, estetiza violências e perpetua ausências. Pensar no cinema hoje é reconhecer sua possibilidade política, mas também suas repetições. A linguagem cinematográfica não é neutra, ela carrega matrizes culturais, econômicas, históricas e todos os filmes que vimos durante a mostra ilustram isso; Suffren age, correndo riscos na determinação de um cinema territorializado. “Sonhos como barcos de papel”, é ativamente a história que se passa agora, com muitos de nós ou próximos a nós quando pensamos em guerras, genocídios, diásporas ou êxodos. Afinal, este curta conta exatamente uma fração de uma nação violentada pela colonização que, mesmo sendo a primeira independente do mundo, a partir da revolta negra, segue repercutindo a consequência dessa violência. 

Pensar que em preto e branco – a origem do cinema – se constrói um aprimoramento da linguagem audiovisual em seu ápice tecnológico, na forte carga estética e narrativa, sofisticada mesmo na ruína: essa da perda de tudo, onde não há o sustento econômico e, para buscá-lo, se perde os afetos, a cultura. Tudo isso através do drama de um núcleo familiar que subverte as normas de gênero que somos inseridas, em uma narrativa marcada pela emigração forçada. Sob a perspectiva de quem permanece, o filme estabelece um marcador temporal: a presente ausência de quem partiu em busca de uma oportunidade, mantém vivo o passado, ao mesmo tempo que a criança cresce, mas a realidade econômica não se modifica